BLOG DE RNPACARJAS

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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Política: as verdades que você não quer enxergar

Olá a todos e todas. Imagino que em algum momento de suas vidas vocês já se perguntaram porque pagam tantos impostos, não têm serviços públicos de qualidade e também porque nada nesse país vai para frente. O principal motivo vocês sabem, eu sei, nossos pais e avós sabiam: o brasileiro prefere se manter alienado às verdades sobre a política do que se inteirar e ter que tomar uma atitude, assim como o corno que prefere não saber da traição.
Provavelmente esse texto terá infinitamente menos visibilidade do que um texto meu sobre sexo oral ou qualquer outro da categoria “Sexo e Relacionamento”, afinal, melhor saber como foder com os outros do que como os outros nos fodem.
Certa vez li em algum lugar uma frase que questionava a seriedade no Brasil, era algo próximo disso:
“O Brasil não é um país sério, é um lugar onde a polícia rouba, o traficante cheira e a puta tem orgasmo com o cliente”.
Sabe o que é pior? É que em boa parte dos casos a afirmação tem procedência.
Eu só incluiria mais um trecho, deixando a frase assim:
“O Brasil não é um país sério, é um lugar onde o político governa para o governo, a polícia rouba, o traficante cheira e a puta tem orgasmo com o cliente”.
Claro que há exceções, assim como há em qualquer afirmação, porém é impossível negar a realidade presente diante de nossos olhos e ouvidos.
Creio que o cenário político brasileiro foi alterado por algumas situações, dentre elas cito três falecimentos:Tancredo Neves, Luis Eduardo Magalhães (filho de ACM) e Orestes Quércia.
Muita gente deve estar se perguntando o que uma coisa tem a ver com outra. Eu explico, mas primeiro vamos fazer um pequeno repasse no que aconteceu.

Começamos em 1984 com eleições indiretas para presidente, Tancredo ganhou, assumiu José Sarney (atual presidente do Senado). Depois passamos para Fernando Collor de Mello, sendo substituído pelo mineiro Itamar Franco. Após ele, veio Fernando Henrique Cardoso por dois mandatos, sendo sucedido por Lula, por mais dois mandatos. Sendo, recentemente, sucedido por Dilma Rousseff.

Muito bem, nossa história democrática resumida em um parágrafo. Esse é um dos motivos da democracia não ter achado seu caminho, no Brasil ela é muito recente, tivemos apenas quatro presidentes eleitos diretamente.
Como os falecimentos dos que citei influenciaram o cenário atual?

Tancredo e o caminho aberto para Sarney

Vamos pelo primeiro, a grande desilusão popular com a morte de Tancredo Neves e a sucessão de José Sarney, que, inclusive, correra o risco de não acontecer caso o primeiro morresse antes do dia da posse.
Neves segurou sua saúde debilitada até os últimos momentos para garantir que os militares empossassem seu vice ou, na pior da hipóteses, o presidente da câmara dos deputados, Ulysses Guimarães. Quem era Sarney?Até pouco tempo antes da eleição que elegeu Tancredo, o vice era presidente do partido dos militares, o PDS.
O que teria acontecido se Tancredo não tivesse falecido? Fatalmente Sarney não teria assumido presidente e talvez, nem Collor tivesse conseguido se eleger, pois o mesmo só conseguiu espaço pelo péssimo governo que o antecedeu, com direito a inflação e desvalorização da moeda. Com a morte de Tancredo, outro nome familiar vem tomando força ao longo dos tempos, o de Aécio Neves, seu neto e atual senador pelo estado de Minas Gerais.
Após Collor em um governo marcado por confisco da poupança, abertura para importados e um impeachment, tivemos Fernando Henrique Cardoso. Que fez um ótimo primeiro mandato mantendo a moeda estável e a inflação baixa, mas deixou muito a desejar no segundo, fazendo com que o câmbio se alterasse demais. Luiz Inácio Lula da Silva, após 3 tentativas infrutíferas, é eleito presidente.
Como se deu a eleição de Lula? Acredito que alguns fatores pesaram:
  • a falta de proximidade do partido de FHC, o PSDB, com as classes populares;
  • o momento econômico
  • a necessidade de renovação no poder
  • a identificação do candidato com o povo brasileiro
  • a falta de recursos do PSDB (que optou por não arrecadar parte do salário de seus filiados, ao contrário do PT)
E o mais importante, faltou um candidato de oposição à altura.

Faltou um candidato nordestino contra Lula

É aí que entra a morte de Luis Eduardo Magalhães. Em 1998, ano em que faleceu, Luis Eduardo era nome certo para o governo da Bahia, tendo como trajetória planejada e acordada entre PSDB e PFL (hoje Democratas), ser candidato a presidência em 2002 contra o candidato do Partido dos Trabalhadores.
Com sua morte precoce, o plano de sucessão fracassou e a aposta do PSDB foi feita no nome de José Serra.Teria Luis Eduardo sido derrotado em uma disputa com Lula? Acho difícil.
Uma das coisas que pesou muito contra Serra foi a sua distância com o eleitorado e o fato de ser paulista “demais”. Luis Eduardo não teria esse problema, era natural da Bahia, o que lhe traria simpatia do eleitorado nordestino, e era reconhecido no meio político como um excelente articulador.
Lula fez um bom primeiro mandato do ponto de vista popular, portanto, nada mais lógico do que reconduzi-lo ao poder. Mesmo com todas as acusações sobre o “mensalão” petista e a exoneração de quase toda cúpula do partido, Lula ganhou sobrevida ao negar que sabia das transações feitas em seu nome. O povo engoliu.
Dessa vez o “escolhido” pelo PSDB para bater Lula foi Geraldo Alckmin. Ocorreu um racha partidário, os militantes ficaram divididos entre apoiar Alckmin e Serra (prefeito de São Paulo à época).
Com uma campanha enfraquecida pela divisão interna, Alckmin sucumbiu a Lula enquanto Serra era eleito governador pelo estado de São Paulo. A divisão ficou ainda mais evidenciada em 2008 quando Gilberto Kassab(Democratas) disputou a eleição para prefeito de São Paulo com Alckmin.
Boa parte do PSDB, simpatizantes de Serra, apoiou Kassab ao invés de Alckmin, que acabou derrotado ainda no primeiro turno.

Quércia motivou a fundação de um novo partido, o PSD

Kassab tinha um grande trunfo na mão, o apoio de Orestes Quércia, do PMDB. Com a aliança que fez, colocando Alda Marco Antônio (PMDB) como sua vice, teve mais tempo de televisão que PT e PSDB. Foi eleito no segundo turno, deixando Marta Suplicy sem entender como fora derrotada.
Pelo que pude notar, a aliança se baseava em uma troca, Quércia sairia para senador, com o apoio do Democratas, na próxima eleição, em troca do apoio para a prefeitura. Fato que aconteceu em 2010.
O PMDB paulista, na mão de Quércia, se mostrava claramente contra a posição nacional do partido, que insistiu em uma aliança com o PT. Essa aliança foi consolidada quando José Sarney, então presidente do senado, teve problemas com gastos não justificados e, mesmo com a população pedindo sua renúncia, não teve seu cargo questionado por Lula.
Lembro-me da declaração que pôs uma pá de cal no assunto, Sarney disse “Fico, em nome da governabilidade do Brasil”. Na verdade era praticamente uma ameaça ao PT de que, caso fosse tirado de onde estava, iria dificultar a vida do presidente no congresso fazendo com que projetos de seu interesse não fossem aprovados. Com isso Michel Temer foi indicado para vice de Dilma.
E o que a morte de Quércia alterou? Tudo.
É quase certo de que Quércia abrigaria Kassab no PMDB paulista ou ainda migraria com ele para um novo partido, carregando a militância que lhe era fiel e contrária a Temer.
Seu falecimento fez com que Kassab fosse compelido a montar o PSD – Partido da Social Democracia ou Social Democrático (nome ainda em definição), arrumando desafetos em seu antigo partido, mas servindo de casa para dissidentes do PSDB, Democratas, PMDB, PV e PT.

O que tudo isso virará eu não faço ideia, mas de uma coisa eu tenho certeza: na política, vão se os anéis e ficam-se os dedos, quer dizer, pelo menos o do meio sempre sobra para a gente.

pergunteaourso@gmail.com

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