Depois de instalar o Pro-Paz, o governador foi se desentender com estudantes e professores |
Conforme relato do professor Ormano Sousa na sua página no FB, “o
governador Simão Jatene perdeu a compostura com alunos da escola Rio
Tapajós após discurso de reinauguração do prédio. Os alunos falaram que
não gostariam apenas de uma reforma de pintura, mas estruturais, falaram
das aulas de educação física, quando são expostos ao sol quente na
quadra que foi construída pela própria comunidade escolar, dentre outros
pontos. Jatene tentou argumentar, mas alunos insistiram em ser ouvidos.
Jatene esbravejou e deixou o pátio da escola”.
Veja as imagens:
Veja as imagens:
O governador falou que a escola teria sido "depredada", conforme as
palavras dele, pela falta de conservação, e que os professores, por
isso, não estariam cumprindo com o seu papel de educadores. Em nenhum
momento Jatene foi hostilizado pelos alunos, nem por ninguém presente,
mas as meninas que se colocavam sobre uma pequena mureta, onde os alunos
sentam nos horários de intervalos na área coberta, onde o fato ocorria,
rebateram, dizendo que os alunos não eram vândalos e que uma reforma
que pensavam para a escola não era somente de pintura de paredes, de
pintura de telhas para mostrar tudo novo
Presente na ocasião, Ormano atendeu a pedido deste blog e faz o seguinte relato mais completo:
1. Jatene está em visita a Santarém no programa do Propaz. Foi à Escola
Rio Tapajós com a intenção de inaugurar a reforma do prédio. Na
realidade, a reforma se resume, praticamente, a uma pintura geral. Como é
natural, as paredes já estavam sujas, e, para fazer o bonito junto ao
governador, a 5ª URE (Unidade Regional de Ensino) determinou que as
aulas fossem suspensas por dois dias para repintura interna. Ontem,
durante todo o dia, sem preparar o terreno, as áreas arborizadas foram
tapetadas de grama, ficou uma maravilha... para inglês ver. No primeiro
sol quente, a grama vai morrer por falta de adubo. Ele não chegou a
inaugurar. A cerimonial mudou o discurso e disse que a visita era apenas
para verificar como estavam sendo feitas as reformas das escolas e ali
seria um modelo para que ele visse.
2. O evento foi pouco prestigiado. Como não houve aula no dia anterior,
para liberar para a repintura e outros "retoques", os alunos não
compareceram hoje (ontem) também, pois sabiam que não haveria aula pela
manhã, somente tarde e noite seriam normais, como ocorreu, realmente.
Havia poucos alunos. Poucos professores. Somente os que tinham horário a
cumprir. Logo cedo a Profª Marinete Lima, que é a segunda pessoa na 5ª
URE, "convidou" os professores presentes para um mutirão de limpeza com
uns poucos alunos que ali estavam. Ninguém atendeu o "convite". No
momento da chegada do governador, além desses já citados estava o
pessoal da comitiva, o prefeito Alexandre Von e assessores, além do
pessoal da imprensa. A TV Tapajós mostrou a cena em que três alunas
concluintes do 3º ano discutiram com Jatene, talvez pelo fato de ter
repercutido a nota que lancei no FB.
3. Eram três alunas do 3º ano. Elas - detalhe - ainda estavam com
camisas do Flamengo festejando a vitória do time na Copa do Brasil.
Ouviram atentamente o discurso inflamado do governador. Jatene detonou a
escola e os alunos. Citaram a necessidade de ter uma quadra decente - a
que existe foi construída pela própria comunidade escolar, sem nenhum
centavo da Seduc. (A escola recebeu, no dia em que completou 15 anos,
dia 3 de outubro passado, um comunicado informando da autorização da
cobertura da quadra, mas sem projeto pronto nem verba orçada - promessa,
portanto). Jatene disse que "não há dinheiro que cubra todas as
necessidades da escola". As meninas insistiram em apontar necessidades,
salas quentes, laboratórios e espaços pedagógicos sem funcionar por
falta de pessoal. O governador, que já estava bravo, saiu esbravejando,
dando as costas, deixando as alunas falando sozinhas. O diretor, Prof.
Aloizio Bentes, deu declaração à TV Tapajós, apoiando as meninas. Acho
que isso poderá "feder" pro lado dele.
4. O governador deixou a área coberta e se dirigiu para umas salas
próximas para mostrar à imprensa, quando constatou carteiras mal
conservadas. Voltou a dizer que má conservação de material tira a
possibilidade de investir em outros setores. É oportuno dizer que os
espaços que estão climatizados - secretaria, sala dos professores,
auditório, biblioteca, foram por investimento da própria escola, por
projetos e iniciativas, como festivais que a escola promove.
5. Ele permaneceu no local por cerca de meia hora ainda. Talvez
orientado por assessores, ele tentou reverter o clima de tensão com uma
rápida conversa com professores e alunos presentes, mas apenas algo
unilateral sem nenhuma promessa. Mas foi ratificado a ele a necessidade
de investir nos espaços da escola.
6. Não houve reação dos professores, a não ser nesse momento em que ele
conversou com alguns, porque vários já haviam saído. Eu já não estava
mais quando ele conversou com o pequeno grupo.
O diretor está no cargo por eleição. Portanto, qualquer tentativa de
tirá-lo vai de encontro às prerrogativas legais. Ele se manteve bastante
neutro, como é o perfil dele. Uma visão de ótica. As meninas estavam
num plano superior a Jatene. E elas mostraram autoridade. Nada havia
sido previsto. Foi azar do Jatene ter chamado os alunos de vândalos.
Fonte: Blog do J. Parente