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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Floresta do Araguaia PA é o Rei do abacaxi e é do Pará: conheça o município que movimenta milhões com a fruta

Delícia da terra gera três vezes mais movimento financeiro que a arrecadação inteira da prefeitura. No entanto, Floresta do Araguaia não está na lista de exportadores; produto é absorvido por mercado doméstico.

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Com 20 mil habitantes, o município de Floresta do Araguaia não é muito fã de regras nem do politicamente correto nem tampouco faz questão de ser humilde, por uma razão muito simples. Ele é famoso pela produção de uma commodity que, para muitos, poderia ser considerada sinônimo de problema: o abacaxi. Aliás, Floresta se autoproclama “Capital Nacional do Abacaxi”. Basta conferir no endereço de sua prefeitura na internet.
Mas há razão de ser em sua vanglória, que é amparada em estatísticas oficiais. O município é campeão na produção e na movimentação financeira de abacaxi no país, segundo a mais recente Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por lá, o abacaxi ocupa uma área de 7.500 hectares, dentro da qual caberiam duas cidades do tamanho de Parauapebas. Por isso, em Floresta, abacaxi (ou ananás, como queira) é parte da solução econômica, enquanto os problemas são outros.
De acordo com o IBGE, que faz o levantamento anual de produção do campo nos 5.570 municípios, o Brasil tem 927 localidades que produzem ativamente abacaxi. Entre tantos lugares, Floresta do Araguaia reina absoluto. Em 2017, ano da pesquisa mais recente, o município contabilizou 148,5 mil toneladas da fruta saídas com nota fiscal. Isso gerou em faturamento bruto R$ 134,89 milhões, o equivalente a 7,74% dos R$ 1,74 bilhão movimentados no Brasil com essa commodity agrícola.
Ananás fora da cesta
Apesar de ser o maior produtor nacional, Floresta do Araguaia não é exportador de abacaxi para terras do além-mar. O Blog do Zé Dudu foi buscar no Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) informações sobre isso e constatou que o município não possui um grama de abacaxi comercializado com o exterior. Pelo contrário, os grandes exportadores estão bem longes de terras paraenses.
O pernambucano Petrolina liderou as exportações de frutas em 2018, com 45,12 milhões de dólares negociados — e aqui cabe ressaltar que, nesse pacote, vão abacaxi, ananás, tâmara, figo, abacate, goiaba, manga e magostões, frescos ou secos. Petrolina é seguido em exportação pelos baianos Casa Nova (39,85 milhões de dólares) e Juazeiro (39,3 milhões de dólares) e pelo conterrâneo Belém de São Francisco (20,43 milhões de dólares).
Esses municípios, em conjunto, formam o cinturão que mais despacha frutas do Brasil ao exterior e, pela tradição e reconhecimento que possuem, até se beneficiam de produtos oriundos de outros lugares, como o abacaxi de Floresta. O Blog cruzou dados do MDIC com os do IBGE e constatou que nenhum desses maiores exportadores é produtor potencial de abacaxi, assim como não são os paulistas Bauru (12,07 milhões de dólares) e Campinas (6,36 milhões de dólares) nem o potiguar Ipanguaçu (5,35 milhões de dólares), que completam o eixo de grandes exportadores de frutas.
Floresta do Araguaia até acumula um tacanho valor de exportações na balança comercial brasileira. No entanto, o município não faz apontamento de remessa direta de abacaxi e seu único produto apreciado pelos gringos é o sumo de frutas ou de produtos hortícolas (não fermentados, sem adição de álcool, com ou sem adição de açúcar). Essa iguaria rendeu, ano passado, apenas 2,13 milhões de dólares em divisas, o que corresponde a R$ 8 milhões em moeda nacional.
Abacaxi maior que prefeitura
O abacaxi que Floresta do Araguaia movimenta por ano é muito maior que a receita líquida inteira arrecadada por sua prefeitura. Apesar de o governo municipal não atualizar seu portal de transparência na internet, no que diz respeito aos balanços bimestrais e quadrimestrais, o Blog garimpou o Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO) do 6º bimestre e o Relatório de Gestão Fiscal (RGF) do 3º quadrimestre de 2018 e constatou que, ano passado, o governo de Adélio dos Santos acumulou receita líquida de R$ 47,17 milhões — praticamente três vezes menos que o faturamento local do abacaxi no ano anterior.
Do montante arrecadado, cerca de R$ 26,85 milhões foram utilizados com pagamento do funcionalismo, que comprometeu 56,94% da receita líquida e, portanto, estourou o limite máximo de 54% da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Apesar da comprovada importância da agricultura na produção de riquezas do município, que tem o abacaxi como carro-chefe, a Prefeitura de Santana só aplicou R$ 1,23 milhão nessa área. Os serviços de educação (R$ 20,46 milhões) e saúde (R$ 9,06 milhões) consumiram bem mais.
Atualmente, os empregos de Floresta do Araguaia, contabilizados em 1.055 vínculos formais pelo Ministério do Trabalho (MTb), estão, em sua maior parte, na prefeitura (cerca de 750), no campo (150) e no comércio (150). Um profissional empregado no setor agropecuário ganha em média R$ 1.426,11, enquanto um da administração pública local ganha R$ 2.429,31. A taxa de ocupação formal para o tamanho da população é baixa e a informalidade é alta, com considerável número de habitantes sobrevivendo de bicos, uma realidade presente no Pará, de acordo com o IBGE.
O reinado do abacaxi, que também caminha para ser gigante na produção de soja e tem nove vezes mais cabeças de gado que moradores, tem muitos desafios. Um deles é a pobreza. Dados do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) revelam que Floresta encerrou 2018 com um exército de 11.390 cidadãos abaixo da linha de pobreza, sobrevivendo com menos da metade de um salário mínimo por mês. De cada 100 moradores, 57 estão empobrecidos. Além disso, o desenvolvimento municipal — no conjunto de educação, saúde e geração de renda — está entre os 1.500 piores do Brasil, nas contas da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Floresta do Araguaia, quase tocantinense, é mais um pedaço do pequeno capítulo que ilustra o modo de ser e progredir do Pará: o desenvolvimento social é seu pepino diante de tanto potencial de riquezas e delícias naturais. O abacaxi, por seu turno, segue sendo o porta-voz da economia local e, sem trocadilhos, a salvação da lavoura.
Por Zé Dudu

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