BLOG DE RNPACARJAS

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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Mais trabalhadores ameaçados pela mineração no Pará


Nos municípios de Floresta do Araguaia e Rio Maria, no sul do Pará, desde 2007, funcionam duas empresas de mineração para extração do minério de ferro no caso a Mineração Floresta do Araguaia, subsidiária da empresa Siderúrgica do Pará – SIDEPAR, que também produz ferro gusa no Distrito Industrial de Marabá, e uma outra que extrai ouro, no caso a Reinarda Mineração Ltda.
Além dos problemas ambientais causados pelo processo de extração dos minérios, as empresas causam transtornos para as populações que moram ao longo da vicinal Babaçu, por onde trafegam seus veículos que transportam seus empregados e os que transportam os minérios. As mais atingidas são de pequenos agricultores da Colônia Marajoara que ocupam um trecho de seis quilômetros(6 Km) da vicinal.
1. PROJETO FERRO

Mina do Projeto Ferro em Floresta do Araguaia

A reserva mineral foi calculada em 20,3 milhões de toneladas, com teor médio em torno de 60% de Fe202. Serão mineradas as serras denominadas Big Mac I e Big Mac II.
O córrego Campo Grande, afluente do rio Maria, possui uma de suas nascentes dentro da área do projeto. Na área de influencia do projeto existem córregos e lagoas que poderão ser afetados por poluentes originados na exploração mineral.
Impactos Previstos
Alteração da qualidade das águas superficiais; alteração na qualidade do ar; aumento no nível de ruídos; impactos decorrentes da retirada de água do igarapé; desestabilização de taludes e encostas; intensificação de erosão assoreamento; supressão da vegetação; redução de indivíduos da fauna local devido a perda de habitat; afugentamento de fauna; alteração nas comunidades planctônicas;
Impactos Presentes
A população no entorno do projeto reclama de ruídos causados por estrondos de explosivos, a modificação de águas de igarapés, a poeira causada pelo tráfego de caçambas que transportam o minério que atinge as pessoas, os animais, as águas e as plantações, e acidentes.
2. PROJETO ANDORINHAS
O Projeto Andorinhas, pertence à empresa Reinarda Mineração Ltda., subsidiária da empresa Troy Resources, tem como objetivo a lavra e beneficiamento de minério de ouro, nos municípios de Floresta do Araguaia e rio Maria.
A extração de ouro feita pela Reinarda, desde o ano de 2007, é feita em áreas de antigos garimpos, conhecidas como Mamão(subterrânea) e Lagoa Seca(a céu aberto). A capacidade da jazida é de 1.524.000 t de minério com 8,8 g/t de ouro, correspondendo a 13,4 t de ouro. A escala de produção foi previsto para 200.000 t/ano. O projeto terá duração de cinco anos.
O local de disposição do estéril foi selecionado a oeste da cava. A capacidade do depósito é de aproximadamente 1.000.000 m³. Existe um potencial de risco de drenagem ácida.
A maior parte do minério e do estéril será desmontada com utilização de explosivos.
O ouro será extraído do carvão rico em dois tanques, por meio de solução composta por cianeto de sódio e soda cáustica, aquecido a 115ºC. A área de lixiviação e adsorção é constituída por tanques, onde é adicionado NaCN (Cianeto de Sódio).
Previsão de mão-de-obra necessária, de 123 a 173 trabalhadores.
Dentro da área do projeto existem córregos e lagoas, bem como o igarapé Mamão, que podem ser afetados por poluentes originados nas fases de lavra do minério.
Impactos Previstos
Erosão, assoreamento de corpos d´água, alteração das propriedades de solo e das águas superficiais e subterrâneas, geração de resíduos sólidos, ruídos, redução de habitats naturais e deslocamento da fauna.
A ESTRADA DO MEDO
Quem trafega pela principal estrada vicinal, vicinal babaçu, de Floresta do Araguaia hoje conhecida por “estrada da mineração”, viaja em um constante estado de atenção e medo. Tudo isso em função da intensa movimentação de caminhões que transportam minério de ferro britado e peneirado da mina Big Mac I, da Mineração Floresta do Araguaia até a Siderúrgica do Pará (SIDEPAR), no Distrito Industrial de Marabá onde é transformada em ferro-gusa. Os dois empreendimentos fazem parte do mesmo grupo.

Carreta Bitrem saindo da mina carregado de minério

Esses caminhões conhecidos como bi-trens preocupam os moradores que precisam se deslocar pela estrada para chegarem à sede do município Floresta do Araguaia, ou terem acesso a agora federalizada BR 155, antiga PA 150. Vale destacar que apesar dessa referida estrada apresentar sérios problemas em todo seu trajeto, o trecho que fora federalizada é apenas o que liga Marabá a cidade de Redenção. Isso se deve aos interesses de grandes grupos econômicos, principalmente, os ligado à exploração mineral. A via federalizada pode facilitar investimento e nas estradas que a circundam, o que melhora a condição da logística de escoamento de minérios de vários projetos que se concentram nesse perímetro, principalmente os controlados pela Vale.
Essa estrada é antiga. Na década de 80 a circulação de pessoas era intensa. A estrada era utilizada para dá acesso aos garimpos do Mamão e Lagoa Seca, onde se explorava ouro. Nessa área é onde atualmente está implantado o Projeto Andorinhas de exploração de ouro de responsabilidade da Empresa canadense Reinarda Mineração LTDA.
Em função da necessidade de garantir a escoação no minério de ferro, essa estrada apresenta um pouco melhor estado de conservação que a PA 449 ( Estrada do Bambu). A rodovia é a principal via que dá acesso a sede do município de Floresta do Araguaia. Apesar do perigo e buracos, muitos se arriscam a circular por essa via, principalmente no período chuvoso.

Bitrem e a poeira – Estrada da mineração próximo a estrada da mina

Os bi-trens assustam pelo tamanho e velocidade em que circulam pela estrada. .Segundo informações coletadas, esses bi-trens chegam a transportar cada um 80 toneladas de minério. Peso maior do que o limite estabelecido por lei, pois, de acordo com a Resolução Nº 68/98 do Conselho Nacional de Transito, combinação de Veículos de Carga – CVC não poderão possuir Peso Bruto Total Combinado – superior a 74 toneladas . Ao longo do trecho que liga a mina a Marabá onde é descarregado o minério não existe nenhum tipo de balança para aferir o peso do que é transportado pelos bitrens. Além do perigo eminente de atropelamento, os moradores convivem também com a poeira, pois, a mesma não possui pavimentação asfáltica.
O tráfego desses enormes veículos contribui para o desgaste do já problemático estado das estradas do sul e sudeste paraense. E eleva o nível de perigo para outros motoristas em trafegar pelas estradas da região, que ainda sofrem com os constantes assaltos. O desgaste das estradas deve ser ampliado em função do transporte de minério de níquel que sai do projeto Onça Puma em Ourilândia do Norte via PA 279 e do transporte de carvão mineral vindo da Bolívia para abastecer os fornos desse mesmo projeto. Essa rota de escoação desse minério que hoje passa pela área urbana de Xinguara deve ser alterada a medida que se faça o asfaltamento da vicinal que liga a Vila Canadá em Xinguara ( zona rural) ao Município de Canaã do Carajás, e assim chegar até Parauapebas, onde o minério deve ser exportado via Estrada de Ferro Carajás ( EFC)
Vários acidentes com os bi-trens já foram registrados: atropelamento, inclusive com mortes, colisão com outros veículos, tombamentos etc. Situação essa que já foi denunciada a entidades governamentais. E a situação continua a mesma.
Valdeci Gomes da Silva e João Veneza Lima de Carvalho são duas das diversas vitimas dos bi-trens. Ambos perderam a vida em virtude dos acidentes. João Veneza deixou uma viúva paralítica, com 03 filhos menores de idade, sendo que um é cego e deficiente físico e mental.
O tráfego desses caminhões amplia-se a cada dia, no entanto, os investimentos na melhoria da qualidade dessas estradas não acompanham no mesmo ritmo. O que se percebe é que as iniciativas nesse sentido acompanham os interesses dos grandes grupos econômicos, e, detrimento da qualidade de vida da população local. Estradas vicinais historicamente utilizadas por moradores locais passam a ser rota de escoação de minério e gradativamente pelo perigo que apresentam acaba por se tornar “estradas da mineração”.
O CLAMOR DAS POPULAÇÕES
Compreendemos a necessidade que há de extração dos recursos minerais para superação das necessidades da humanidade, mas não podemos admitir que este processo seja realizado de forma a beneficiar um pequeno grupo de pessoas e causar prejuízos para um grande número que vivem no entorno dos projetos.
No caso da exploração do minério de ferro e ouro, nos municípios de Floresta do Araguaia e Rio Maria, desde o ano de 2007, o que percebemos é o prejuízo para as populações que vivem no entorno do projeto, principalmente no nosso Caso da comunidade Vitória da Conquista e outros que moram ao longo da estrada que dá acesso da mina à Br-155.
Os problemas que enfrentamos:
1. RUÍDOS
Somos incomodados durante 24 horas pela poluição sonora provocada pelos veículos de transporte de trabalhadores, e principalmente a provocada pelos Bi-trens que transportam minérios. O incômodo maior se dá à noite, quando deveríamos aproveitar do silêncio para dormirmos e descansarmos do dia de labuta, mas não podemos porque o barulho chega a ser insuportável. Os animais também são incomodados com o barulho.
2. POEIRA
A poeira produzida pelo tráfego dos veículos, que chegam até 3 Km de distancia, causam vários danos, na produção, criação de animais, vegetação, impregnação nas roupas e utensílios domésticos, e prejuízo para a saúde das pessoas e dos animais, com alteração do ar e das águas.
a) A PRODUÇÃO de frutas e hortaliças fica prejudicada pela quantidade de poeira que atinge os produtos, alterando seu formato e sua qualidade, fazendo com que deixemos de produzir.
b) A CRIAÇÃO DE ANIMAIS fica prejudicada pela alteração da qualidade das pastagens que chegam a ser rejeitadas pelos animais influenciando na redução do peso e na quantidade de leite. As águas de açudes e represas para criação de peixes são alteradas, sem que possa ser alcançado o desenvolvimento dos alevinos. Até os poços tem que estar bem fechados para que a água não seja totalmente alterada.
c) A VEGETAÇÃO vai perdendo a capacidade de fotosíntese devido o excesso de poeira que impregna as folhas das plantas e das pastagens.
d) OS MÓVEIS e utensílios das residências estão constantemente impregnados de poeira, não tem como manter limpos. As roupas, cobertas, toalhas, no varal ficam impregnadas de poeira, e também dentro de casa.
e) O TRÁFEGO na vicinal se torna um grande risco tato pela forma com os motoristas dos Bi-trens tomam conta da estrada, sem sinalização, e pela quantidade de poeira que dificulta a visibilidade, principalmente para quem trafega de motocicleta. Vários acidentes já ocorreram e vários prejuízos já foram causados para as pessoas. Vários acidentes já ocorreram também na BR, com morte e causando deficiências irreparáveis. Para citar alguns: com morte, o caso do Edmilsom Ferraz e Lourival Soares de Oliveira; com deficiência, dona Joana e Fernando da FETAGRI, este até hoje em tratamento, cm pouca recuperação.
f) PROBLEMAS DE SAÚDE, afetam diretamente as pessoas, mesmo sem saírem de casa, os mais afetados são crianças e idosos. As crianças além de serem atingidas em casa também são quando se deslocam para a escola, porque tem que ficar na beira da vicinal aguardando o transporte escolar, por este ser aberto as crianças recebem poeira em todo o percurso de ida e volt da escola. Tem criança que os tiveram que tirar da escola porque não conseguem viver com saúde. Principais casos que pode ser comprovados, a partir de declarações feitas pela família:
a) Dona Ana Paula Pereira Guimarães Lopes, declara que o filho Victor Guimarães Lopes, não sara a gripe, já foi ao médico várias vezes, mas não tem resultado. Durante a noite fica impossível de respirar, pois é muita poeira.
b) Dona Rosa Santos Feitosa, declara que o filho Cássio ficou doente devido a poeira. Fez raio-x e acusou mancha nos pulmões e pneumonia. Ela fala que a poeira faz mal para as visas, causa irritação nos olhos.
c) Dona Elizete P. de Sousa, declara que o filho Ian Carlos tem bronquite alérgica, e não pode sentir poeira, mas não tem condições de ficar um dia sem poeira, pois os Bi-trens passam 24 horas, ele falta o ar e precisa fazer aerosol e fica com as amídalas inflamadas. Ele precisa estudar e tem que pegar o ônibus na estrada.
d) Dona Eliane Miranda Feitosa, 35 anos, sofre de bronquite asmática e nesta época tem crises muito fortes, com dias de cama, tomando remédio, até usando uma bombinha. Às vezes tem que passar dias na cidade.
e) Dona Osdânia Soares da Silva, declara que o filho Gabriel silva Carvalho, de 2 anos, tem problemas de irritação da vista, por isto tem que usar colírio quase o tempo todo, e sua filha Kevillin, de 5 anos, tem problema respiratório que se agrava com a poeira. Ela leav-os ao médico e sempre tem que está comprando remédio e sem condições.
f) Sr. Antonio Lopes da Conceição, declara que vive com o corpo sempre doído, sempre indisposto. Diz que a poeira além de prejudicar a saúde ainda prejudica os poucos pastos que tem para os animais.
g) Dona Érica Talaça Lopes, declara que seu filho João José Talaça Conceição, 3 anos, está sempre gripado e nariz escorrendo. Leva-o sempre ao médico, dá remédios, gasta muito, mas não resolve.
Portanto , nós da comunidade Vitória da Conquista, Colônia Marajoara, município de Rio Maria, não agüentamos mais, por isto exigimos das empresas:
Paralisação do tráfego até que seja providenciado o asfaltamento da estrada, sinalização e controle de velocidade.
Esta é a dura realidade em que vivem as famílias de trabalhadores das comunidades rurais do sul e sudeste do Pará, porque a cada dia surge mais um projeto de exploração mineral, justamente onde existem projetos de assentamento de agricultores, que a duras penas conquistaram a terra, na luta contra latifundiários e seus jagunços.

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